Em 2003 houve um Encontro Plenário do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que focalizou o tema da espiritualidade ecumênica. Daí nasceu o livrinho “Guia para uma espiritualidade ecumênica”, publicado por Edições Paulinas e escrito pelo cardeal Walter Kasper, que era presidente do Conselho. È um livro simples, que os catequistas deveriam ler porque recolhe orientações de vários documentos oficiais e nos mostra como a nossa Igreja quer que seja vivida uma verdadeira espiritualidade ecumênica. Vamos lembrar aqui algumas coisas importantes que esse texto destacou, a partir de outros documentos eclesiais e da Sagrada Escritura.
Ele nos relembra, por exemplo, as palavras de Paulo em 1 Cor 12,3: “Ninguém será capaz de dizer “Jesus é o Senhor”, a não ser sob a influência do Espírito Santo”. Citando isso, o cardeal Kasper quer nos dizer que existe presença do Espírito Santo no meio de cristãos de outras Igrejas. É um fato que o documento Unitatis Redintegratio também reconheceu e até indicou como algo que pode nos fazer bem, quando disse: ´Tudo o que a graça do Espírito Santo realiza nos irmãos separados pode também contribuir para a nossa edificação.” (UR 4)
Isso aponta para possíveis conseqüências na catequese. Já vi católicos ficarem descontentes quando cito, como bom exemplo, frases ou ações de algum cristão de outra Igreja. Querem que eu me limite aos católicos. É claro que temos que usar com frequência os numerosos exemplos de vida de nossos santos, temos que valorizar o que vem da nossa comunidade católica. Mas é a nossa Igreja que está nos dizendo que podemos aproveitar o que há de bom em outras tradições para crescer como cristãos, sem nos tornarmos nem um pouquinho “menos católicos”.
Ao falar dos sacramentos, o livro do cardeal Kasper dedica um espaço à questão das famílias de casamentos mistos. Tenho experiência de participar há muitos anos, de um grupo ecumênico de convivência cristã, onde há vários casais em que um dos cônjuges é católico e o outro evangélico. É bonito ver como eles vivem essa realidade. No começo, achavam que a diferença entre as Igrejas era um problema com o qual eles tinham que conviver. Hoje eles sentem que o seu casamento lhes deu uma missão: o amor conjugal que eles vivenciam é percebido como um sinal do amor que Deus quer ver entre as Igrejas e eles se sentem chamados a mostrar esse sinal no trabalho pela unidade dos cristãos. O livro do cardeal Kasper percebe a potencialidade dessa situação quando diz que famílias de casamento misto podem “ser chamadas a desempenhar um papel na organização ou liderança de grupos ecumênicos que se reúnam para oração e estudo das Escrituras, ou para ajuda a outras famílias de casamento misto.” Esses casais poderiam também “receber uma responsabilidade particular na preparação de serviços de oração ecumênica, tanto durante a Semana de Oração pela Unidade dos cristãos como durante o ano.”
Nossas paróquias têm pastorais variadas. A Pastoral da Família, em muitos lugares, tem até um atendimento específico para casais de segunda união. Se tivéssemos, em cada diocese pelo menos, uma Pastoral das Famílias de Casamento Misto, a catequese teria aí um papel importante porque o diálogo ecumênico exige, além do respeito pela maneira como o outro vive a sua fé, uma firmeza na própria identidade católica. As reuniões de pais da catequese poderiam ser um espaço para identificar famílias que têm membros de Igrejas diferentes para depois dar a elas a possibilidade de oração e reflexão em conjunto, dentro de um sadio respeito fraterno pela identidade eclesial de cada um.
A espiritualidade ecumênica não é, portanto, uma excentricidade a que alguns se dedicam. È um jeito de servir à nossa Igreja, fazendo exatamente o que ela nos pede nas suas orientações oficiais.
Therezinha Cruz
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