domingo, setembro 30

O PODER DA ORAÇÃO
Autor: Padre Mustafa

Conta-se que uma pobre senhora, com visível ar de derrota estampado no
rosto, entrou num armazém, se aproximou do proprietário, conhecido pelo seu
jeito grosseiro, e lhe pediu fiado alguns mantimentos. Ela explicou que o
seu marido estava muito doente e não podia trabalhar e que tinha sete filhos
para alimentar.
O dono do armazém zombou dela e pediu que se retirasse do seu
estabelecimento. Pensando na necessidade da sua família ela implorou:
- Por favor senhor, eu lhe darei o dinheiro assim que eu tiver...
Mas o homem lhe respondeu que ela não tinha crédito e nem conta na sua
loja.
Em pé, no balcão ao lado, um freguês que assistia a conversa entre os
dois, se aproximou do dono do armazém e lhe disse que ele deveria dar o que
aquela mulher necessitava para a sua família por sua conta. Então o
comerciante falou meio relutante para a pobre mulher:
- Você tem uma lista de mantimentos?
- Sim, respondeu ela.
- Muito bem, coloque a sua lista na balança e o quanto ela pesar, eu lhe
darei em mantimentos.
A pobre mulher hesitou por uns instantes e com a cabeça curvada, retirou
da bolsa um pedaço de papel, escreveu alguma coisa e o depositou suavemente
na balança.
Os três ficaram admirados quando o prato da balança com o papel desceu e
permaneceu embaixo.
Completamente admirado com o marcador da balança, o comerciante virou-se
lentamente para o seu freguês e comentou contrariado:
- Eu não posso acreditar!
O freguês sorriu e o homem começou a colocar os mantimentos no outro
prato da balança. Como a escala da balança não equilibrava, ele continuou
colocando mais e mais mantimentos até não caber mais nada. O comerciante
ficou parado por uns instantes olhando para a balança, tentando entender o
que havia acontecido... Finalmente, pegou o pedaço de papel da balança e
ficou espantado pois não era uma lista de compras e sim uma oração com os
seguintes dizeres:
- Meu Senhor, o Senhor conhece as minhas necessidades e eu estou
deixando isto em Suas mãos...
O homem deu as mercadorias para a pobre mulher no mais completo
silêncio. Ela agradeceu e foi embora.
O freguês pagou a conta e disse: - Valeu cada centavo...
E só mais tarde o comerciante pôde reparar que a balança havia quebrado,
naquele momento ele entendeu que só Deus sabe o quanto pesa uma prece...
Muitos de nós temos esquecido do poder da oração nos momentos de
dificuldades e nos de alegria.
Geralmente o que fazemos é lamentar a situação e duvidar do amparo
divino.
No entanto, Jesus, o Mestre por excelência, buscava elevar o pensamento
ao Pai, em muitos momentos de Sua existência na Terra. E várias vezes para
rogar pela humanidade inteira.
A prece deveria ser nossa primeira atitude nas horas difíceis e também
nos momentos de felicidade. Na dificuldade para rogar forças e discernimento
e na alegria para agradecer. Afinal, a oração é a porta que abrimos para nos
comunicar com as forças superiores que, em última instância, vêm do Criador
do universo.
A oração tem o peso que a nossa emoção lhe dá. Somente a prece
impulsionada pelo sentimento e pela verdadeira fé, alcançam o seu objetivo.

sexta-feira, setembro 14

UNIDADE NA DIVERSIDADE DA IGREJA

unidade na diversidade da Igreja
O apóstolo Paulo teve que lidar com as questões básicas da Igreja nascente, guiando as comunidades a partir da interpretação das orientações deixadas por Jesus. Ele precisou resolver problemas que ainda não existiam durante o curto tempo de pregação de Jesus. Tinha que detectar onde estavam as ameaças para o crescimento e o poder de persuasão das comunidades cristãs. Fez isso tão bem que conseguiu que do grupo de judeus seguidores do judeu Jesus viesse a se estruturar uma religião que se espalhou pelo mundo inteiro.
Uma das coisas que Paulo percebeu muito bem foi a necessidade da unidade na diversidade. Ele lidava com pessoas de origens, culturas, tendências e talentos diversos. Viajava de uma comunidade para outra e percebia que cada uma precisava ser atendida a partir de necessidades diferentes. Mas percebia também como era importante que todos se sentissem unidos por algo maior.
Paulo expressou magnificamente em 1 Cor 12, 12-27 como deveria funcionar o conjunto da Igreja. Foi aí que ele usou a imagem do corpo, que tem (e precisa ter) membros diferentes para funcionar direito. E dá exemplos bem concretos: Se o corpo todo fosse olho, onde estaria o ouvido? (...) O olho não pode dizer à mão: não preciso de ti. Nem a cabeça pode dizer aos pés:não preciso de vós.” A catequese poderia trabalhar bem essa idéia, até dramatizando as possíveis conversas entre as partes do corpo, para mostrar que é bom ter órgãos com funções e capacidades diferentes. Mas é preciso que essas partes diversas tenham também uma unidade. Se um pé decidir que vai ao parque e outro insistir em ir para a escola, o corpo acaba não indo a parte alguma.
Essa reflexão estaria dirigida em primeiro lugar para a nossa própria pastoral de conjunto. Mas ela constrói um tipo especial de espiritualidade, que nos leva a valorizar o outro, não somente pelas afinidades que tivermos com ele, mas também pelas diferenças que vão poder ser complementares. Na verdade, uma comunidade de clones, todos iguaizinhos, além de ser monótona, seria muito pouco produtiva. Também uma comunidade de gente com talentos bem diferentes que vivesse em competição, cada um achando que só ele está certo e tem valor, seria um lugar de convívio insuportável e não seria capaz de atrair os de fora. No entanto, uma comunidade de gente amiga e colaboradora, que saiba aproveitar com alegria os diferentes talentos e estilos de cada um num trabalho com objetivos comuns, seria produtiva e despertaria em outros o desejo de participar. A catequese poderia montar dramatizações que evidenciassem esses três tipos de comunidade, levando os catequizandos a uma boa reflexão que mostraria também a importância da unidade na diversidade em outros campos da ação humana.
Essa idéia está na base da espiritualidade ecumênica. Ecumenismo é uma espiritualidade, antes mesmo de ser uma estratégia, uma prática, um conjunto de ações. Antes mesmo de propor um diálogo com irmãos de outras Igrejas, temos que contemplar o valor da diversidade que, inspirada pela unidade, promove uma cooperação mais construtiva.

Therezinha Cruz

quinta-feira, setembro 13

A FÉ E A AÇÃO DEVEM ANDAR JUNTAS

A fé - caso não seja acompanhada de ação - é vã, visto que é incapaz de gerar a força motriz que irá aproximar-nos da realização de nossos sonhos e ideais.
No entanto, essa ação deve ser correta, justa e honesta. Deve interagir com a fé de modo pacífico e harmonioso e acima de tudo, deve visar sempre o bem maior das pessoas. Devemos refletir: o que eu desejo vai contribuir para a felicidade do maior número possível de pessoas? É prejudicial a alguém? É honesto? Estou sendo egoísta em desejar isso? Após uma análise sincera, devemos agir de modo inteligente visando à concretização do desejo, pois apenas desejar e nada fazer para colocar em movimento a energia necessária para a realização dos planos, é o mesmo que tentar dirigir um automóvel sem antes abastecê-lo com o combustível adequado. Um automóvel totalmente desprovido de combustível não tem a energia propulsora para movimentá-lo, por mais que eu deseje que ele saia da garagem. É impossível! Assim também ocorre com todos os nossos sonhos, metas, planos e ideais. Precisamos ter atitude, ação! E mais que isso: a ação deve ser correta e adequada ao desejo!
Vejamos o exemplo de Naamã (2 Reis 5.1 a 19):
Naamã era o comandante do exército do rei da Síria e gozava de alto conceito perante o rei e o povo, pois era herói de guerra e dera muitas vitórias à Síria, porém, era leproso.
Certa vez ouviu um conselho de sua criada, uma menina israelita, a qual lhe disse para procurar um profeta em Israel e este lhe restauraria a saúde. Naamã assim o fez. Entretanto, ao falar com Eliseu, este lhe orientou a mergulhar sete vezes no rio Jordão e a sua carne se tornaria limpa. Naamã ficou indignado, pois pensou que poderia mergulhar em qualquer outro rio da Síria. No entanto, alguns de seus oficiais lhe aconselharam a seguir as determinações do profeta. Ao aceitar o conselho e mergulhar sete vezes no Jordão, Naamã viu que sua carne havia se curado.
Este bravo oficial sírio somente teve sua saúde restabelecida porque teve fé no Senhor e agiu da maneira adequada à situação, ou seja, tomou a atitude necessária para que sua fé pudesse materializar aquilo que mais ardentemente desejava.
Outro exemplo de fé aliada com ação podemos encontrar em Mateus 15.21 a 28: A mulher Cananéia desejava a cura de sua filha, mas Jesus lhe repudiou com palavras muito duras, que certamente teriam dissuadido muitas outras pessoas. Essa mulher não se deixou abater pela rispidez de Jesus, insistiu com ele e numa atitude de extrema humildade, colocou-se na posição de inferioridade perante os israelitas, porém, merecedora das migalhas que os mesmos recebiam do seu Senhor. Ao perceber a fé dessa mulher, sua coragem e sua atitude correta e digna, Jesus prontamente curou a menina.
Ter fé é fazer algo concreto para que o objetivo seja alcançado. Ter fé é agir, estudar, procurar, trabalhar, pesquisar, envolver as pessoas com amor, carinho e afeto. Ter fé é sentir no coração que o seu desejo puro e honesto já está realizado, mas, concomitantemente, é ter a atitude/ação que conduzirá à realização desse desejo. (Hb 11,1: Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem)
Assim como Naamã e a mulher Cananéia souberam discernir e agir, vamos também buscar a ação necessária que nos guiará rumo à realização de nossos sonhos, mas claro, sempre empunhando n’alma e no coração a bandeira da fé, do amor e da esperança!
Pela fé, ruíram as muralhas de Jericó, depois de rodeadas por sete dias. (Hebreus 11,30)

Andréa Maria Eberhardt Munhoz

quarta-feira, setembro 5

NOVENA A SANTA LUZIA

Ola amigos blogueiros dos catequistas unidos ou não, convido a todos para fazerem parte desta corrente de oração rezando a novena a SANTA LUZIA durante nove dias pedindo a  ela que interceda junto a Jesus pela cura total e definitiva da vizão de nossa amiga e irmã SHEILA, e também pelos médicos que estão cuidando,dela para que DEUS os ilumine e que eles tenham o discernimento certo do tratamento que Irom aplicar,

FASSA COM FÉ E DEVOÇÃO QUE ALCANÇAREMOS ESTA GRACAS.
Podem fazerer através deste blog, ou se preferir poste em seu blog para que divulgação seja maior e muitas outras pessoas orem por ela.

Oração para todos os dias

Ó Santa Luzia que preferistes deixar que os Vossos olhos fossem vazados e arrancados antes de negar a fé.
Ó Santa Luzia cuja dor dos olhos vazados não foi maior que a de negar a Jesus. E Deus com milagre extraordinário Vos devolveu outros olhos sãos e perfeitos para recompensar Vossa virtude e Vossa fé.
Protetora das doenças dos olhos, eu recorro a Vós...SANTA LUZIA  pedindo a sua interseção junto a Jesus, e pelo poder de seu nome que conceda a cura total e definitiva de nossa amiga SHEILA.
Para que protegeis as minhas vistas e cureis as doenças dos meus olhos.
Ó Santa Luzia conservai a luz dos meus olhos, para que eu possa ver as belezas da criação, o brilho do sol, o colorido das flores, o sorriso das crianças. Conservai também os olhos de minha alma, da fé, pelos quais eu posso ver meu Deus e aprender os seus ensinamentos para que eu possa aprender contigo e sempre recorrer a Vós.
Santa Luzia protegei os meus olhos e conservai a minha fé.
Santa Luzia protegei os meus olhos e conservai a minha fé.
Santa Luzia dai-me luz e discernimento.
Santa Luzia dai-me luz e discernimento.
Santa Luzia rogai por nós.
Amém.
 
 

terça-feira, setembro 4

O SOFRIMENTO

Quando O Sofrimento Bater à Sua Porta
Sofremos demais por aquilo que é de menos

Sofrer é como experimentar as inadequações da vida. Elas estão por toda parte. São geradas pelas nossas escolhas, mas também pelos condicionamentos dos quais somos vítimas.
Sofrimento é destino inevitável, porque é fruto do processo que nos torna humanos. O grande desafio é saber identificar o sofrimento que vale a pena ser sofrido.

Perdemos boa parte da vida com sofrimentos desnecessários, resultados de nossos desajustes, precariedades e falta de sabedoria. São os sofrimentos que nascem de nossa acomodação, quando, por força do hábito, nos acostumamos com o que temos de pior em nós mesmos.

Perdemos a oportunidade de saborear a vida só porque não aprendemos a ciência de administrar os problemas que nos afetam. Invertemos a ordem e a importância das coisas. Sofremos demais por aquilo que é de menos. E sofremos de menos por aquilo que seria realmente importante sofrer um pouco mais.

Sofrer é o mesmo que purificar. Só conhecemos verdadeiramente a essência das coisas à medida que as purificamos. O mesmo acontece na nossa vida. Nossos valores mais essenciais só serão conhecidos por nós mesmos se os submetermos ao processo da purificação.

Talvez, assim, descubramos um jeito de reconhecer as realidades que são essenciais em nossa vida. É só desvendarmos e elencarmos os maiores sofrimentos que já enfrentamos e quais foram os frutos que deles nasceram. Nossos maiores sofrimentos, os mais agudos. Por isso se transformam em valores.

O sofrimento parece conferir um selo de qualidade à vida, porque tem o dom de revesti-la de sacralidade, de retirá-la do comum e elevá-la à condição de sacrifício.
Sacrifício e sofrimento são faces de uma mesma realidade.

O sofrimento pode ser também reconhecido como sacrifício, e sacrificar é ato de retirar do lugar comum, tornar sagrado, fazer santo. Essa é a mística cristã a respeito do sofrimento humano. Não há nada nesta vida, por mais trágico que possa nos parecer, que não esteja prenhe de motivos e ensinamentos que nos tornarão melhores. Tudo depende da lente que usamos para enxergar o que nos acontece. Tudo depende do que deixaremos demorar em nós.

Spinoza escreveu: “Percebi que todas as coisas que temia e receava só continham algo de bom ou de mau na medida em que o ânimo se deixava afetar por elas”. O filósofo tem razão. A alegria ou a tristeza só poderão continuar dentro de nós à medida que nos deixamos afetar por suas causas. É questão de escolha. Dura, eu sei. Difícil, reconheço. Mas ninguém nos prometeu que seria fácil.

Se hoje a vida lhe apresenta motivos para sofrer, ouse olhá-los de uma forma diferente. Não aceite todo esse contexto de vida como causa já determinada para o seu fracasso. Não, não precisa ser assim.

Deixe-se afetar de um jeito novo por tudo isso que já parece tão velho. Sofrimentos não precisam ser estados definitivos. Eles podem ser apenas pontes, locais de travessia. Daqui a pouco você já estará do outro lado; modificado, amadurecido.

Certa vez, um velho sábio disse ao seu aluno que, ao longo de sua vida, ele descobriu ter dentro de si dois cães – um bravo e violento, e o outro manso, muito dócil. Diante daquela pequena história o aluno resolveu perguntar- E qual é o mais forte? O sábio respondeu – O que eu alimentar. O mesmo se dará conosco na lida como os sofrimentos da vida. Dentro de nós haverá sempre um embate estabelecido entre problema e solução. Vencerá aquele que nós decidirmos alimentar...

 

 

domingo, setembro 2

A HUMILDADE E UM PRESENTE DE DEUS

A Humildade
Muitos e muitos anos atrás, um homem muito sábio visitava os povoados, realizando os pedidos das pessoas que ele julgava que tinham atuado com justiça e benevolência.

Este homem sábio tinha a faculdade de atender os pedidos de todas as pessoas que se acercavam a ele; por este motivo, numa determinada cidadezinha existia um grande alvoroço.

O sábio chegou no povoado e todos correram até ele, e todos pediam favores, alguns pediam dinheiro, outros pediam saúde, outros namorados ou namoradas e assim cada um fez seu pedido.
E ele foi atendendo na medida do merecimento de cada um deles.

Porém o homem sábio viu no fundo da multidão um rapaz jovem que nada tinha pedido, dirigindose a ele lhe disse: e tu nada tens a me pedir, ao qual o jovem respondeu: nada peço porque nada mereço, se algum dia a natureza julgar que mereço algo ela mesma me deverá de proporcionar.

O homem sábio perguntou então: qual é teu nome meu rapaz, e o jovem respondeu com humildade:
Jesus de Nazaré, Senhor.

 

 

sábado, setembro 1

A BELEZA DA CASTIDADE

A Beleza Fascinante Da Castidade
Uma privação
A castidade costuma ser definida como algo negativo. É a qualidade daquele que se abstém de
relações sexuais antes ou fora do casamento. É a virtude dos que evitam olhares libidinosos, dos querejeitam os divertimentos mundanos, dos que se privam de seguir as modas licenciosas. É também a virtude daqueles que renunciam ao casamento "por causa do Reino dos Céus" (Mt 19,12) a fim de servirem a Deus com o coração indiviso (1Cor 7,32-34).
Abstenção, renúncia, privação. Tais palavras indicam uma lacuna, uma falta, um vazio. Não é errado usá-las para definir a castidade. Mas não se pode parar nelas. Pois, que sentido tem exaltar um vazio?

Elogiar uma privação? Glorificar uma falta? Não seria mais sensato preencher o vazio? Satisfazer à
privação? Suprir a falta?

Ao falar da castidade como algo que se deixa de fazer, como algo de que se abstém, como algo a que se renuncia, é preciso acrescentar o motivo de tal não-fazer, de tal abstenção, de tal renúncia.
É preciso ainda, além dos motivos, falar dos frutos de tal atitude. Em suma: é preciso falar do que a castidade tem de positivo, nos seus motivos e nos seus efeitos.
De outro modo, a castidade se apresentaria como uma atitude louca, uma espécie de neurose, sem explicação lógica, mas puramente psicológica: um mecanismo de fuga, uma frustração, como
costumam dizer os psicanalistas.


Nem toda privação é má
A falta de olhos em um homem é digna de elogios? Um poeta exaltaria a falta de uma perna
consumida por uma gangrena? Alguém louvaria a falta de comida no estômago ou a ausência de
cordas vocais em uma garganta? A privação, por si só, não parece ser atraente.
No entanto, a filosofia ensina-nos que nem toda privação é má. Má é a ausência de uma perfeição
devida. Assim, é mau que um homem não tenha olhos, uma vez que os olhos são devidos à natureza humana. Mas não pode ser chamada de "má" a ausência de olhos na pedra, uma vez que a pedra, por sua natureza inerte e inanimada, não requer a presença de olhos. Tal perfeição, por não ser devida à pedra, pode estar ausente sem que isso constitua um mal.


Privação de algo indevido
Assim, a castidade, embora signifique privação, não é um mal. O casto não se priva de algo devido.


Priva-se de algo indevido.Alguém aqui poderia replicar: não é devido à natureza humana que o homem e a mulher se sintam atraídos? A atração entre os sexos não é algo natural, que a castidade repele de modo artificial? Não seria um mal que os jovens reprimam suas inclinações naturais, abstendo-se de relações sexuais e, mais ainda, de tudo quanto possa causar o desejo delas?

A resposta é simples. A natureza humana não é apenas corpórea, mas também espiritual. Se é natural ao homem o instinto que o leva a alimentar-se, a fugir dos perigos, a aproximar-se de alguém do outro sexo, também é natural que tais instintos sejam regulados pela razão. Pertence à natureza do homem não se transformar em joguete de seus instintos, mas controlá-los racionalmente. Esse controle implica privação. Mas privação de algo indevido.

O motorista, ao controlar um automóvel, contraria a tendência natural do veículo de seguir em direção ao abismo, o que ocorreria se ele não girasse o volante. A mudança de trajetória, contrariando a tendência dos corpos de conservarem a direção de seu movimento, implica uma privação. Mas não se trata de uma privação de algo devido. Tal privação não é má. Ao contrário, ela é um bem. Pois, ao se privar de andar em linha reta em direção ao abismo, o automóvel segue a estrada e é capaz de chegar ileso ao destino desejado pelo condutor.

O casto, ao privar-se da relação sexual antes do matrimônio, está privando-se de algo indevido. Com efeito, se ele é solteiro, o corpo alheio ainda não lhe pertence. Unir-se a esse corpo seria uma usurpação, uma falta contra a justiça. O casado que, fiel ao compromisso conjugal, rejeita unir-se ao corpo de um terceiro, que não é seu cônjuge, está rejeitando algo indevido. Desse modo, a castidade, longe de ser um mal, é um bem: ela preserva o namoro, prepara o matrimônio, solidifica a família, enobrece o ser humano.


Sem desprezo pela sexualidade
Castidade não significa, nem pode significar menosprezo pelo matrimônio ou pela união física entre os cônjuges. Justamente por dar um grande valor a essas coisas, o casto não admite que o instinto sexual aja nelas cegamente, sem ser controlado pela razão.

Não é apenas o instinto sexual que precisa ser controlado. Também o instinto alimentar, que existe para assegurar nossa sobrevivência, precisa de um controle. Embora o homem sinta fome, sabe que deve esperar a hora da refeição para comer. Sabe que não pode apoderar-se de uma comida que não é dele, por mais apetitosa que seja. E sabe que deve comportar-se com boas maneiras estando à mesa. A virtude que regula o comer e o beber chama-se sobriedade. A sobriedade, no entanto, embora digna de admiração, não costuma despertar o fascínio e o encanto que desperta a castidade.


Por quê?Uma e outra não são partes da temperança?
Uma e outra não são virtudes que regulam instintos relacionados com a vida humana: o instinto
alimentar (sobriedade) e o instinto reprodutor (castidade)?
O que o casto tem de especial em relação ao sóbrio, que guarda moderação no comer e no beber?
Por que apenas a castidade - e não a sobriedade - costuma ser objeto de escárnio para o mundo?
Por que aquele que se abstém de bebidas alcoólicas e come moderadamente não recebe, nem de
longe, a zombaria que costuma receber o que valoriza a virgindade e a fidelidade conjugal?


A castidade relaciona-se com a transmissão da vida
Porque, embora o instinto alimentar seja relacionado com a vida, ele fica restrito à vida de um
indivíduo. O instinto sexual (ou reprodutor) relaciona-se com a vida da espécie humana. Transmitir a vida a outro ente, comunicando-lhe a natureza humana, chama-se gerar. O instinto sexual está
intimamente ligado à geração: à transmissão da vida.
Transmitir a vida a outrem é mais do que conservar a própria(1). Por isso a virtude da castidade, que regula o instinto reprodutor, é maior do que virtude da sobriedade, que regula o instinto alimentar.

A sacralidade da vida é entendida até pelos mais simples grupos humanos. Os nativos da Polinésia
usam a palavra tabu para exprimir as coisas sagradas, intocáveis. Para os polinésios, tabu
compreende a vida humana (que ninguém tem o direito de tocar), a geração da vida humana e a união sexual em que a vida humana é gerada. Tudo o que se refere à vida é tão sagrado quanto ela.

A sexualidade, portanto, é sagrada.
A belíssima palavra tabu tem um significado positivo. Não se trata de uma proibição irracional. Tratasede uma valorização de algo que supera o próprio homem: o poder de transmitir a vida. Trata-se dorespeito e da veneração por algo que, embora confiado ao homem, não está sujeito aos seus caprichos: o poder de gerar, de procriar, de cooperar com Deus na criação de um outro ente humano. Lamentavelmente a palavra tabu chegou ao nosso idioma com o significado pejorativo que lhe atribuiu a ideologia de Freud.

É intuitivo que a vida é sagrada. Também é intuitivo que a família, em que ela é gerada e educada, deve ser sagrada(2). Da mesma forma deve ser sagrada a união sexual, que dá origem à vida. Sagrado deve ser também o matrimônio, em que o homem e a mulher constituem uma comunidade de amor própria para a transmissão da vida. Por fim, deve ser sagrado o namoro, em que o rapaz e a moça se preparam para assumirem esse compromisso perpétuo de amor, fidelidade e fecundidade.


A castidade, sinal de contradiçãoCompete à castidade zelar pela sacralidade das coisas que mais têm a ver com a vida: o namoro, o matrimônio, a atração entre os sexos, a união sexual. Por isso a castidade é apta a atrair, seja o
fascínio dos que respeitam a vida, seja o escárnio dos que exaltam a morte.
É difícil permanecer neutro diante da castidade. Ela exige uma opção. E essa opção acaba por ser
apaixonada. Os castos defendem a castidade com todas as fibras e não querem largá-la por nada deste mundo. Os mundanos odeiam a castidade com todas as suas forças e não se cansam enquanto não esmagarem o último casto que encontrarem pela frente. A castidade é, de fato, um sinal de contradição
(Lc 2,34).

Quem não está com ela, está contra ela (Mt 12,30).

A castidade, virtude sobrenatural
Note-se que, até agora falamos da castidade como virtude natural. Nenhum menção fizemos à graçasobrenatural, que Cristo conquistou para nós pelo preço de seu sangue (1Cor 6,20). Também não falamos do Espírito Santo que, como fruto da redenção de Cristo, passou a habitar em nosso corpo como em um templo (1Cor 6,19).

Se todo homem tem o dever de ser casto, pelo simples fato de ser racional, o cristão tem um motivo a mais para cultivar a castidade: ele é templo do Espírito Santo. Seus instintos devem ser governados, não apenas pela razão natural, mas pela graça sobrenatural.

"Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta" (Gl 5,25).

Para o cristão, a vida humana, que é sagrada por ser criada por Deus, é sagrada também por ter sido "recriada" por Cristo. Ele deu a sua vida por nós. Ele veio para que tivéssemos vida, e vida em
abundância (Jo 10,10). E a vida que ele prometeu dar-nos é a mesma que recebeu do Pai: "Como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim aquele que me come, viverá por mim" (Jo 6,57). Ele prometeu habitar naquele que cumpre sua palavra: "Se alguém me ama, guardará minha palavra, e meu Pai o amará. E viremos a ele, e nele faremos morada" (Jo 14,23). Aquele que foi batizado em Cristo, revestiu-se de Cristo (Gl 3,27). Pode dizer, com São Paulo: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20).

Para nós, cristãos, a vida humana, elevada pela graça à participação com a vida divina (2Pd 1,4), tem um valor de eternidade. Assim, temos maior razão para respeitarmos a vida. E, em consequência, temos maior razão para valorizarmos a castidade.


O fascínio da castidade
Por referir-se a algo sagrado, como a vida, a castidade tem algo de misterioso e fascinante. O rosto de um casto, longe de parecer deformado, mutilado, é um rosto irradiante. Seu brilho fascina, sua luz causa atração em muitos, ofusca e incomoda a outros.

Como uma casa onde não há sujeira não é uma casa incompleta,
Como o corpo onde não há doenças não é um corpo mutilado,
Como uma máquina onde não há movimentos descontrolados não é uma máquina defeituosa,
Assim o casto, em quem não há os desvios e excessos deste mundo, não é alguém frustrado. Não é pobre, mas rico. Não é triste, mas alegre. Não é vazio, mas cheio. Seus olhos indicam que ele vê e entende coisas que estão ocultas aos impuros. Ao contemplarmos os olhos de um casto, percebemos o que quis dizer Jesus ao afirmar:
"Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5,8).
Os castos, que renunciam aos filmes imorais, que vigiam os olhos para não serem surpreendidos por uma imagem obscena em uma banca de jornais, conservam-se puros para verem Aquele que é. E desde agora, embora ainda não o vejam, já o entendem de maneira imensamente mais profunda do que os outros.

Há uma co-naturalidade afetiva entre a castidade e o conhecimento de Deus, que levava Pascal a
dizer: "Mostre-me um casto que negue a existência de Deus e eu acreditarei nele"(3).
Com isso, o filósofo francês dizia que o ateísmo é um privilégio dos impuros, assim como a visão de Deus será um privilégio dos puros.


Prova de amor
Os namorados, que se preparam para o casamento, podem e devem dar prova de amor um ao outro.
Mas como o amor se prova? Prova-se pela castidade. Não é verdadeiro o amor que não é casto.
Durante o namoro, a castidade manifesta-se pelo tempo, pela distância e pelo sacrifício:
– pelo tempo: o verdadeiro amor sabe esperar;
– pela distância: o verdadeiro amor sabe separar os corpos, a fim de unir as almas;
– pelo sacrifício: o verdadeiro amor sabe abster-se de prazer por causa do outro.
Essas exigências da castidade, justamente por serem tão contrárias ao que prega e faz o mundo,
apresentam-se aos jovens como um desafio, uma meta a ser atingida. E os jovens gostam de desafios.
É próprio da juventude o repúdio à mediocridade e o desejo de fazer algo diferente.
Ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, os jovens costumam ser muito receptivos a uma pregação sobre a castidade. Espantam-se com o que ouvem, mas sentem-se atraídos.
Ao entenderem que o motivo da castidade é o amor, os jovens encaram-na como algo positivo.

Mais que isso:como algo precioso, belo, fascinante.
A fornicação (relação sexual entre solteiros) nada mais é do que um ato de egoísmo praticado a dois. A fornicação está para o amor como o não está para o sim. Justamente porque os fornicadores não sabem esperar, não sabem se distanciar e não sabem se sacrificar, eles em nada diferem dos animais na época do cio. A fornicação é a suprema prova de falta de amor. É o sinal mais seguro de que os dois não merecem um ao outro, não merecem o sacramento do matrimônio e estão totalmente despreparados para constituírem uma família.


A alegria da castidade
Se a castidade é positiva em seu motivo – o amor – também o é em seu efeito. O efeito da castidade foi dito pelo próprio Jesus: a visão de Deus. Esta visão chama-se beatífica porque traz a felicidade.

Aqui na terra ainda não temos a felicidade, mas temos um antegozo dela, que se chama alegria.
A fornicação (relação sexual entre solteiros), o adultério (relação sexual entre uma pessoa casada e outra que não o seu cônjuge) e outros pecados contra a castidade são capazes de oferecer prazer, mas não alegria.
O prazer é corpóreo. A alegria é espiritual.
O prazer é efêmero, passageiro. A alegria é perene e aponta para a felicidade eterna.
O prazer deixa um sabor amargo, um vazio, um remorso. A alegria deixa uma paz, que o mundo é
incapaz de dar.
Se os que buscam o prazer na impureza conhecessem a alegria da pureza, desejariam ser puros nem que fosse só por interesse. De fato, a alegria da pureza está acima do prazer da impureza como o céu está acima da terra.

DistinçõesCastidade não se confunde com ingenuidade ou ignorância.
A castidade não é privilégio daqueles que nada sabem sobre o ato sexual, nem daqueles que são
ingênuos demais para perceberem a malícia do mundo.
Casto é aquele que, entendendo o desígnio de Deus sobre a transmissão da vida, recusa-se a admitir que ela se dê fora de um ato de autêntico amor. Casto é aquele que, precavendo-se das artimanhas do Maligno, sabe prudentemente evitar as ocasiões próximas de pecar.
O casto é um forte, um herói, cuja fortaleza e heroísmo provocam inveja dos impuros, que nada mais são do que fracos e covardes.
O casto é o vencedor cuja vitória irrita o impuro, que é derrotado pelos próprios instintos.

Virgem Prudentíssima
Quando perguntaram a Santa Bernardete se Nossa Senhora é bonita, a vidente respondeu espantada:
"Se Nossa Senhora é bonita? Se você a visse, seu único desejo seria morrer para vê-la eternamente".
Irmã Lúcia de Fátima, ao referir-se à Virgem Maria, disse: "Era uma senhora mais brilhante que o
sol"(4).
Maria Santíssima brilha, não porque tenha luz própria, mas porque nunca pôs obstáculo à luz de Deus.
Se os castos brilham, e brilham tanto, não irradiam a própria luz, mas a de Deus, que neles penetra sem empecilho.
Para entendermos o brilho da castidade, olhemos para os olhos de uma criança. Que há neles que osdiferencie dos olhos dos adultos? São olhos sinceros ( = "sem cera"), transparentes. O olhar de um bebê é algo misterioso. É um olhar que nos interpela. A criança ainda não aprendeu a usar máscaras, não criou crostas de sujeira em seus olhos. Ao olhar-nos ela se revela tal como é. E parece que enxerga algo que não enxergamos. Assim são os castos(5).
Na idade adulta, a castidade precisa ser mantida por uma constante vigilância.
"Vigiai e orai para não cairdes em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mt
26,41).
Em matéria de castidade – diz a Madre Maria Helena Cavalcanti – não há fortes nem fracos. Há
prudentes e imprudentes.

Prudentes são os que, reconhecendo a própria fraqueza, fogem das ocasiões de pecar e agradecem aqueles que os auxiliam com conselhos e exortações.
Imprudentes são os loucos que, embora fracos, insistem em pensar que são fortes, que não cometerão o que os outros já cometeram, que rejeitam as recomendações dos pais e a vigilância de terceiros.

A castidade só se conserva pela prudência. Não é à toa que a Ladainha de Nossa Senhora chama-a de "Virgem prudentíssima". O imprudente, ainda que ore, ainda que ore muito, acabará por cair, e grande será sua queda.
Para a conservação da castidade, dificilmente seremos exagerados em matéria de prudência. Os
jovens que, por imprudência perderam a virgindade, e reconheceram tarde demais que eram fracos, sabem que não é exagero exigir
que os namorados nunca fiquem sozinhos;
que sempre haja a presença de uma terceira pessoa;
que sempre namorem em um lugar claro e iluminado;
que evitem qualquer contato físico que possa causar excitação, seja em si seja no outro.
Convém lembrar - nunca será demais insistir - que a castidade é um tesouro: "um homem o acha e o torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo" (Mt 13,44).

Não costumam ter sucesso as receitas para emagrecer que se concentram nas privações e proibições alimentares. É preciso algo para substituir, com vantagem, os alimentos proibidos aos obesos.
Também Jesus, em seu jejum, não embora se privasse de pão e sentisse fome, resistiu ao demônio dizendo: "Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4,4).
Assim, uma pregação sobre a castidade precisa ser acompanhada de tudo o que ela tem de positivo, em compensação às privações que ela requer: o amor verdadeiro, a visão de Deus, o conhecimento de Deus, a alegria.

Nunca devemos esquecer esta bem-aventurança fundamental reservada aos castos: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5,8).


 Citação de Pe. Welington Leone Ceva, no retiro do clero da Diocese de Anápolis
4) cf. Ap 12
5) "Se não vos converterdes, e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Ceús"
(Mt 18,2).