O apóstolo Paulo teve que lidar com as questões básicas da
Igreja nascente, guiando as comunidades a partir da interpretação das
orientações deixadas por Jesus. Ele precisou resolver problemas que ainda não
existiam durante o curto tempo de pregação de Jesus. Tinha que detectar onde
estavam as ameaças para o crescimento e o poder de persuasão das comunidades
cristãs. Fez isso tão bem que conseguiu que do grupo de judeus seguidores do
judeu Jesus viesse a se estruturar uma religião que se espalhou pelo mundo
inteiro.
Uma das coisas que Paulo
percebeu muito bem foi a necessidade da unidade na diversidade. Ele lidava com
pessoas de origens, culturas, tendências e talentos diversos. Viajava de uma
comunidade para outra e percebia que cada uma precisava ser atendida a partir de
necessidades diferentes. Mas percebia também como era importante que todos se
sentissem unidos por algo maior.
Paulo expressou
magnificamente em 1 Cor 12, 12-27 como deveria funcionar o conjunto da Igreja.
Foi aí que ele usou a imagem do corpo, que tem (e precisa ter) membros
diferentes para funcionar direito. E dá exemplos bem concretos: Se o corpo todo fosse olho, onde estaria o
ouvido? (...) O olho não pode dizer à mão: não preciso de ti. Nem a cabeça pode
dizer aos pés:não preciso de vós.” A
catequese poderia trabalhar bem essa idéia, até dramatizando as possíveis
conversas entre as partes do corpo, para mostrar que é bom ter órgãos com
funções e capacidades diferentes. Mas é preciso que essas partes diversas tenham
também uma unidade. Se um pé decidir que vai ao parque e outro insistir em ir
para a escola, o corpo acaba não indo a parte alguma.
Essa reflexão estaria
dirigida em primeiro lugar para a nossa própria pastoral de conjunto. Mas ela
constrói um tipo especial de espiritualidade, que nos leva a valorizar o outro,
não somente pelas afinidades que tivermos com ele, mas também pelas diferenças
que vão poder ser complementares. Na verdade, uma comunidade de clones, todos
iguaizinhos, além de ser monótona, seria muito pouco produtiva. Também uma
comunidade de gente com talentos bem diferentes que vivesse em competição, cada
um achando que só ele está certo e tem valor, seria um lugar de convívio
insuportável e não seria capaz de atrair os de fora. No entanto, uma comunidade
de gente amiga e colaboradora, que saiba aproveitar com alegria os diferentes
talentos e estilos de cada um num trabalho com objetivos comuns, seria produtiva
e despertaria em outros o desejo de participar. A catequese poderia montar
dramatizações que evidenciassem esses três tipos de comunidade, levando os
catequizandos a uma boa reflexão que mostraria também a importância da unidade
na diversidade em outros campos da ação humana.
Essa idéia está na base da
espiritualidade ecumênica. Ecumenismo é uma espiritualidade, antes mesmo de ser
uma estratégia, uma prática, um conjunto de ações. Antes mesmo de propor um
diálogo com irmãos de outras Igrejas, temos que contemplar o valor da
diversidade que, inspirada pela unidade, promove uma cooperação mais
construtiva.
Therezinha Cruz