Aprender com o outro sem medo
Andamos
pelo mundo aprendendo uns com os outros. Gonzaguinha tem uma canção (Caminhos do
Coração) que diz: “... toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de
outras tantas pessoas...” Pensadores famosos disseram coisas semelhantes.
Por exemplo: “Cada pessoa que encontro é superior a mim em algum
aspecto sobre o qual eu aprendo algo.” (Ralph Waldo Emerson) ou “Não só
precisamos realmente entender-nos uns aos outros, como precisamos uns dos outros
para entender a nós mesmos” (Gandhi). A vida de fato seria muito pobre sem a
diversidade de temperamentos, idéias, espiritualidades, talentos, pontos de
vista. É claro que não vamos aprender tudo o que os outros fazem, dizem, sentem.
Muitas vezes é sábio simplesmente dizer: Não! Não quero ser parecido com essa
pessoa! Mas ninguém tem (nem seria bom que tivesse) uma personalidade totalmente
livre de influências alheias.
Não é diferente no
terreno religioso. Nosso cristianismo deve muito ao judaísmo, no qual estão suas
raízes. Uma religião pode ter orações, modos de desenvolver a espiritualidade
que possam ser edificantes para outros grupos. Entre cristãos de Igrejas
diferentes, esse intercâmbio poderia ser ainda mais produtivo e menos arriscado
porque já há uma boa base comum.
Nossa Igreja não
tem medo dessa possibilidade de um aprendizado mútuo entre cristãos de Igrejas
diferentes, feito naturalmente com discernimento e sem intenções de dominação.
Por isso, o documento Unitatis Redintegratio, do Concílio Vaticano II, nos diz:
“... é necessário que os católicos reconheçam com alegria e com a devida
estima os bens verdadeiramente cristãos provenientes do patrimônio comum
existente entre os irmãos separados. Reconhecer as riquezas de Cristo e as obras
virtuosas na vida de quem dá testemunho de Cristo até, às vezes, o derramamento
de sangue, é justo e salutar: Deus é sempre admirável em suas obras. Nem se deve
desprezar a obra da graça do Espírito Santo nos irmãos separados, que pode
contribuir muito para a nossa edificação.” UR 4
Mas, é claro que
só estão bem preparados para essa aprendizagem mútua os que estão firmes na sua
identidade fé. Muito úteis são os encontros em que uns captam coisas boas dos
outros e os católicos continuam católicos, metodistas continuam metodistas,
batistas continuam batistas... e assim por diante. Sem intenções de
proselitismo, a aprendizagem é tranqüila. E até pode ajudar muito na formação
específica de cada parte envolvida porque, para apresentar ao outro o melhor da
sua Igreja, cada um sente que deve conhecer muito bem a instituição que
representa no diálogo.
Músicas, estilos
de acolhimento, orações, biografias de cristãos exemplares, métodos de ensino
são algumas das coisas que as Igrejas deveriam poder partilhar sem medo. Mas só
quem está preparado e seguro vai entrar nesse diálogo sem sentir necessidade de
estar o tempo todo se defendendo do que o outro tem a oferecer.
Therezinha Cruz
Nenhum comentário:
Postar um comentário