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terça-feira, maio 19
MUSICAS DE MINHA AUTORIA
segunda-feira, maio 18
A VIDA EM ABUNDÂNCIA
A Vida Em Abundância
A Vida em Abundância
Um dia, um pai, grande empresário, de família muitíssimo rica, levou seu filho de seis anos para viajar até um lugarejo com o firme propósito de
mostrar ao menino como é que pessoas tão pobres podem viver em um mundo,
onde só ricos e poderosos têm vez e voz.
Passaram dois dias e duas noites no sitio de uma família muito pobrezinha.
Quando retornaram da viagem, o pai perguntou ao filho:
- E ai filhão, como foi a viagem para você?
- Muito boa papai, respondeu o pequeno. - Você viu filho, como as pessoas
pobres podem ser? Não sei como é que existe gente assim no mundo não é
filhão?
- Sim pai, retrucou o filho.
- E o que você aprendeu, com tudo o que viu nesses dias, naquele lugar tão
paupérrimo?
O menino respondeu:
- É pai, eu vi que nós temos só um cachorro em casa, e eles têm quatro. Nós
temos uma piscina que alcança o meio do jardim; eles têm um riacho que não
tem fim. Nós temos uma varanda coberta e iluminada com florescentes e eles
têm as estrelas e a lua no céu. Nosso quintal vai até o portão de entrada e
eles têm uma floresta inteira. Nós temos alguns canários que por cima de
tudo vivem presos em uma gaiola e eles têm todas as aves que a natureza pode
oferecer-lhes, e soltas! Nossa comida é toda industrializada e mais das
vezes congelada, a deles é pescada no riacho, colhida na horta ou que pegam
no terreiro, enfim papai, a alimentação deles é saudável, enquanto que a
nossa não é. E além do mais papai, observei que eles rezam antes de qualquer
refeição, enquanto que nós aqui em casa sentamos à mesa (quando sentamos)
falando de etiquetas negócios, cotação do dólar, eventos sociais, comemos,
empurramos o prato e pronto!
No quarto onde fui dormir com o Tonho, passei vergonha pois não sabia
sequer orar, enquanto que ele se ajoelhou e orou agradecendo a Deus, tudo,
inclusive a nossa visita na casa deles; e nós, aqui em casa, vamos para o
quarto, deitamos, assistimos televisão e dormimos. Outra coisa papai, dormi
na rede do Tonho, enquanto que ele dormiu no chão, pois não havia uma rede
para cada um de nós. Enquanto que aqui na nossa casa colocamos a Maristela,
nossa empregada, para dormir naquele quarto onde guardamos entulhos,
coitada, sem nenhum conforto, ao passo, que temos camas macias e cheirosas
sobrando.
O filho na sua sabia ingenuidade e no seu brilhante desabafo, levantou-se,
abraçou o pai e ainda acrescentou:
- Obrigado papai, por me haver mostrado o quanto "pobres e mesquinhos" nós
somos!
Tudo o que você tem, depende da maneira como você vive. Por mais que lhe
falte coisas, se você tem amor, amigos, família, saúde, bom humor, honradez,
tem atitudes positivas e partilha com benevolência as coisas que você ganhou
de Deus, você terá vida em abundância!
Porém, se você é egoísta, "pobre de espírito" e elitista a ti tudo faltará,
por mais que você tenha.
sexta-feira, maio 15
AMAR E AMAR SEM MEDIDA É AMAR DE CORAÇÃO
A Entrega Total No Amor
A entrega total
O amor humano autêntico é uma entrega total da própria pessoa: alma, coração, corpo, toda a própria vida, presente e futuro. Quando duas pessoas se amam, sabem que vão compartilhar toda a sua vida. O casal é isto: um com uma para sempre, em tudo, para terminar nos filhos. Já não são dois, mas uma só carne e uma só vida. Antes eram duas vidas independentes que, de vez em quando, coincidiam. Agora estão intimamente ligados, a vida de um é inseparável da do outro. Até nas coisas mais concretas.
Por exemplo, se os projectos profissionais de um numa cidade são incompatíveis com a alergia que o outro sente naquele lugar, como os dois são agora uma só carne, a alergia de um afecta a vida do outro. De facto, o outro sente-a como se fosse própria, ou mais ainda, e sofre. Mas a realidade do amor matrimonial faz que, ou os dois se aguentam, ou os dois saem dali. Porque os projectos profissionais são importantes, mas secundários em relação à grandeza do amor.
Por ser um amor total, o amor entre homem e mulher não pode ser senão de um com uma e para sempre. Porque supõe também a adaptação das duas personalidades, das maneiras de ser e gostos de cada um, que procuram evitar o que prejudique ou desgoste o outro, reconhecendo agradecidos que o outro está a fazer o mesmo para que a vida seja agradável e o amor vá aumentando sem encontrar obstáculos. Desta maneira, as personalidades dos dois cônjuges vão-se influenciando e penetrando mutuamente. A vida de um constitui uma parte real da vida do outro. Romper essa união significaria mutilar a vida interior de cada um dos cônjuges e suporia o fracasso rotundo na aventura pessoal mais profunda que pode empreender um ser humano.
Se uma pessoa diz a outra que a ama, a mesma linguagem supõe a expressão "para sempre". Não tem sentido dizer: - Amo-te, mas provavelmente só durará uns meses, ou uns anos, desde que continues a ser simpática e agradável, ou eu não encontre outra melhor, ou não fiques feia com a idade. Um "amo-te" que implica "só por algum tempo" não é um amor verdadeiro. É antes um "gosto de ti, agradas-me , sinto-me bem contigo, mas de modo algum estou disposto a entregar-me inteiramente, nem a entregar-te a minha vida".
Por a pessoa ser corpo e espírito, o seu amor realiza-se com o tempo, mas é, em si mesmo, para sempre. Ou uma pessoa se entrega para sempre ou não se entregou a si próprio. E, se se entregou, já não se possui a si mesmo em propriedade exclusiva, pois deu o coração e o corpo a outra, que, por sua vez, lhos deu a ele.
No amor conjugal, a intervenção do corpo dá um carácter irreversível à relação de entrega. Com efeito, quando uma pessoa entrega o corpo, é porque se entrega a si própria em plenitude. Mas quando uma pessoa entrega de verdade a alma, tem de ter em conta que implica a totalidade da vida.
Entregar-se "inteiro" é entregar "a vida inteira". Se não, é que não se entregou.
A entrega do corpo é a expressão dessa entrega total da pessoa. Porque o meu corpo sou eu, não é uma coisa externa, um agasalho ou uma máquina que eu uso, mas sou eu próprio. Precisamente por isso, o amor conjugal autêntico inclui, por si, o "até que a morte nos separe". O matrimónio é entregar-se para sempre; entregar o corpo sem se entregar para sempre seria prostituição, a utilização da própria intimidade como objecto de troca: dar o corpo em troca de algo (ainda que esse algo seja o enamoramento), sem ter entregado a vida.
A entrega totalO amor humano autêntico é uma entrega total da própria pessoa: alma, coração, corpo, toda a própria vida, presente e futuro. Quando duas pessoas se amam, sabem que vão compartilhar toda a sua vida.
O casal é isto: um com uma para sempre, em tudo, para terminar nos filhos. Já não são dois, mas uma só carne e uma só vida. Antes eram duas vidas independentes que, de vez em quando, coincidiam. Agora estão intimamente ligados, a vida de um é inseparável da do outro. Até nas coisas mais concretas.
Por exemplo, se os projectos profissionais de um numa cidade são incompatíveis com a alergia que o outro sente naquele lugar, como os dois são agora uma só carne, a alergia de um afecta a vida do outro. De facto, o outro sente-a como se fosse própria, ou mais ainda, e sofre. Mas a realidade do amor matrimonial faz que, ou os dois se aguentam, ou os dois saem dali. Porque os projectos profissionais são importantes, mas secundários em relação à grandeza do amor.
Por ser um amor total, o amor entre homem e mulher não pode ser senão de um com uma e para sempre. Porque supõe também a adaptação das duas personalidades, das maneiras de ser e gostos de cada um, que procuram evitar o que prejudique ou desgoste o outro, reconhecendo agradecidos que o outro está a fazer o mesmo para que a vida seja agradável e o amor vá aumentando sem encontrar obstáculos. Desta maneira, as personalidades dos dois cônjuges vão-se influenciando e penetrando mutuamente. A vida de um constitui uma parte real da vida do outro. Romper essa união significaria mutilar a vida interior de cada um dos cônjuges e suporia o fracasso rotundo na aventura pessoal mais profunda que pode empreender um ser humano.
Se uma pessoa diz a outra que a ama, a mesma linguagem supõe a expressão "para sempre". Não tem sentido dizer: - Amo-te, mas provavelmente só durará uns meses, ou uns anos, desde que continues a ser simpática e agradável, ou eu não encontre outra melhor, ou não fiques feia com a idade. Um "amo-te" que implica "só por algum tempo" não é um amor verdadeiro. É antes um "gosto de ti, agradas-me , sinto-me bem contigo, mas de modo algum estou disposto a entregar-me inteiramente, nem a entregar-te a minha vida".
Por a pessoa ser corpo e espírito, o seu amor realiza-se com o tempo, mas é, em si mesmo, para sempre. Ou uma pessoa se entrega para sempre ou não se entregou a si próprio. E, se se entregou, já não se possui a si mesmo em propriedade exclusiva, pois deu o coração e o corpo a outra, que, por sua vez, lhos deu a ele.
No amor conjugal, a intervenção do corpo dá um carácter irreversível à relação de entrega. Com efeito, quando uma pessoa entrega o corpo, é porque se entrega a si própria em plenitude. Mas quando uma pessoa entrega de verdade a alma, tem de ter em conta que implica a totalidade da vida.
Entregar-se "inteiro" é entregar "a vida inteira". Se não, é que não se entregou.
A entrega do corpo é a expressão dessa entrega total da pessoa. Porque o meu corpo sou eu, não é uma coisa externa, um agasalho ou uma máquina que eu uso, mas sou eu próprio. Precisamente por isso, o amor conjugal autêntico inclui, por si, o "até que a morte nos separe". O matrimónio é entregar-se para sempre; entregar o corpo sem se entregar para sempre seria prostituição, a utilização da própria intimidade como objecto de troca: dar o corpo em troca de algo (ainda que esse algo seja o enamoramento), sem ter entregado a vida.
quarta-feira, maio 6
A HUMILDADE
A Humildade
Muitos e muitos anos atrás, um homem muito sábio visitava os povoados, realizando os pedidos das pessoas que ele julgava que tinham atuado com justiça e benevolência.
Este homem sábio tinha a faculdade de atender os pedidos de todas as pessoas que se acercavam a ele; por este motivo, numa determinada cidadezinha existia um grande alvoroço.
O sábio chegou no povoado e todos correram até ele, e todos pediam favores, alguns pediam dinheiro, outros pediam saúde, outros namorados ou namoradas e assim cada um fez seu pedido.
E ele foi atendendo na medida do merecimento de cada um deles.
Porém o homem sábio viu no fundo da multidão um rapaz jovem que nada tinha pedido, dirigindose a ele lhe disse: e tu nada tens a me pedir, ao qual o jovem respondeu: nada peço porque nada mereço, se algum dia a natureza julgar que mereço algo ela mesma me deverá de proporcionar.
O homem sábio perguntou então: qual é teu nome meu rapaz, e o jovem respondeu com humildade:
Jesus de Nazaré, Senhor.
Este homem sábio tinha a faculdade de atender os pedidos de todas as pessoas que se acercavam a ele; por este motivo, numa determinada cidadezinha existia um grande alvoroço.
O sábio chegou no povoado e todos correram até ele, e todos pediam favores, alguns pediam dinheiro, outros pediam saúde, outros namorados ou namoradas e assim cada um fez seu pedido.
E ele foi atendendo na medida do merecimento de cada um deles.
Porém o homem sábio viu no fundo da multidão um rapaz jovem que nada tinha pedido, dirigindose a ele lhe disse: e tu nada tens a me pedir, ao qual o jovem respondeu: nada peço porque nada mereço, se algum dia a natureza julgar que mereço algo ela mesma me deverá de proporcionar.
O homem sábio perguntou então: qual é teu nome meu rapaz, e o jovem respondeu com humildade:
Jesus de Nazaré, Senhor.
segunda-feira, maio 4
A BELEZA DA CASTIDADE
A Beleza Fascinante Da Castidade
Uma privação
A castidade costuma ser definida como algo negativo. É a qualidade daquele que se abstém de
relações sexuais antes ou fora do casamento. É a virtude dos que evitam olhares libidinosos, dos querejeitam os divertimentos mundanos, dos que se privam de seguir as modas licenciosas. É também a virtude daqueles que renunciam ao casamento "por causa do Reino dos Céus" (Mt 19,12) a fim de servirem a Deus com o coração indiviso (1Cor 7,32-34).
Abstenção, renúncia, privação. Tais palavras indicam uma lacuna, uma falta, um vazio. Não é errado usá-las para definir a castidade. Mas não se pode parar nelas. Pois, que sentido tem exaltar um vazio?
Elogiar uma privação? Glorificar uma falta? Não seria mais sensato preencher o vazio? Satisfazer à
privação? Suprir a falta?
Ao falar da castidade como algo que se deixa de fazer, como algo de que se abstém, como algo a que se renuncia, é preciso acrescentar o motivo de tal não-fazer, de tal abstenção, de tal renúncia.
É preciso ainda, além dos motivos, falar dos frutos de tal atitude. Em suma: é preciso falar do que a castidade tem de positivo, nos seus motivos e nos seus efeitos.
De outro modo, a castidade se apresentaria como uma atitude louca, uma espécie de neurose, sem explicação lógica, mas puramente psicológica: um mecanismo de fuga, uma frustração, como
costumam dizer os psicanalistas.
Nem toda privação é má
A falta de olhos em um homem é digna de elogios? Um poeta exaltaria a falta de uma perna
consumida por uma gangrena? Alguém louvaria a falta de comida no estômago ou a ausência de
cordas vocais em uma garganta? A privação, por si só, não parece ser atraente.
No entanto, a filosofia ensina-nos que nem toda privação é má. Má é a ausência de uma perfeição
devida. Assim, é mau que um homem não tenha olhos, uma vez que os olhos são devidos à natureza humana. Mas não pode ser chamada de "má" a ausência de olhos na pedra, uma vez que a pedra, por sua natureza inerte e inanimada, não requer a presença de olhos. Tal perfeição, por não ser devida à pedra, pode estar ausente sem que isso constitua um mal.
Privação de algo indevido
Assim, a castidade, embora signifique privação, não é um mal. O casto não se priva de algo devido.
Priva-se de algo indevido.Alguém aqui poderia replicar: não é devido à natureza humana que o homem e a mulher se sintam atraídos? A atração entre os sexos não é algo natural, que a castidade repele de modo artificial? Não seria um mal que os jovens reprimam suas inclinações naturais, abstendo-se de relações sexuais e, mais ainda, de tudo quanto possa causar o desejo delas?
A resposta é simples. A natureza humana não é apenas corpórea, mas também espiritual. Se é natural ao homem o instinto que o leva a alimentar-se, a fugir dos perigos, a aproximar-se de alguém do outro sexo, também é natural que tais instintos sejam regulados pela razão. Pertence à natureza do homem não se transformar em joguete de seus instintos, mas controlá-los racionalmente. Esse controle implica privação. Mas privação de algo indevido.
O motorista, ao controlar um automóvel, contraria a tendência natural do veículo de seguir em direção ao abismo, o que ocorreria se ele não girasse o volante. A mudança de trajetória, contrariando a tendência dos corpos de conservarem a direção de seu movimento, implica uma privação. Mas não se trata de uma privação de algo devido. Tal privação não é má. Ao contrário, ela é um bem. Pois, ao se privar de andar em linha reta em direção ao abismo, o automóvel segue a estrada e é capaz de chegar ileso ao destino desejado pelo condutor.
O casto, ao privar-se da relação sexual antes do matrimônio, está privando-se de algo indevido. Com efeito, se ele é solteiro, o corpo alheio ainda não lhe pertence. Unir-se a esse corpo seria uma usurpação, uma falta contra a justiça. O casado que, fiel ao compromisso conjugal, rejeita unir-se ao corpo de um terceiro, que não é seu cônjuge, está rejeitando algo indevido. Desse modo, a castidade, longe de ser um mal, é um bem: ela preserva o namoro, prepara o matrimônio, solidifica a família, enobrece o ser humano.
Sem desprezo pela sexualidade
Castidade não significa, nem pode significar menosprezo pelo matrimônio ou pela união física entre os cônjuges. Justamente por dar um grande valor a essas coisas, o casto não admite que o instinto sexual aja nelas cegamente, sem ser controlado pela razão.
Não é apenas o instinto sexual que precisa ser controlado. Também o instinto alimentar, que existe para assegurar nossa sobrevivência, precisa de um controle. Embora o homem sinta fome, sabe que deve esperar a hora da refeição para comer. Sabe que não pode apoderar-se de uma comida que não é dele, por mais apetitosa que seja. E sabe que deve comportar-se com boas maneiras estando à mesa. A virtude que regula o comer e o beber chama-se sobriedade. A sobriedade, no entanto, embora digna de admiração, não costuma despertar o fascínio e o encanto que desperta a castidade.
Por quê?Uma e outra não são partes da temperança?
Uma e outra não são virtudes que regulam instintos relacionados com a vida humana: o instinto
alimentar (sobriedade) e o instinto reprodutor (castidade)?
O que o casto tem de especial em relação ao sóbrio, que guarda moderação no comer e no beber?
Por que apenas a castidade - e não a sobriedade - costuma ser objeto de escárnio para o mundo?
Por que aquele que se abstém de bebidas alcoólicas e come moderadamente não recebe, nem de
longe, a zombaria que costuma receber o que valoriza a virgindade e a fidelidade conjugal?
A castidade relaciona-se com a transmissão da vida
Porque, embora o instinto alimentar seja relacionado com a vida, ele fica restrito à vida de um
indivíduo. O instinto sexual (ou reprodutor) relaciona-se com a vida da espécie humana. Transmitir a vida a outro ente, comunicando-lhe a natureza humana, chama-se gerar. O instinto sexual está
intimamente ligado à geração: à transmissão da vida.
Transmitir a vida a outrem é mais do que conservar a própria(1). Por isso a virtude da castidade, que regula o instinto reprodutor, é maior do que virtude da sobriedade, que regula o instinto alimentar.
A sacralidade da vida é entendida até pelos mais simples grupos humanos. Os nativos da Polinésia
usam a palavra tabu para exprimir as coisas sagradas, intocáveis. Para os polinésios, tabu
compreende a vida humana (que ninguém tem o direito de tocar), a geração da vida humana e a união sexual em que a vida humana é gerada. Tudo o que se refere à vida é tão sagrado quanto ela.
A sexualidade, portanto, é sagrada.
A belíssima palavra tabu tem um significado positivo. Não se trata de uma proibição irracional. Tratasede uma valorização de algo que supera o próprio homem: o poder de transmitir a vida. Trata-se dorespeito e da veneração por algo que, embora confiado ao homem, não está sujeito aos seus caprichos: o poder de gerar, de procriar, de cooperar com Deus na criação de um outro ente humano. Lamentavelmente a palavra tabu chegou ao nosso idioma com o significado pejorativo que lhe atribuiu a ideologia de Freud.
É intuitivo que a vida é sagrada. Também é intuitivo que a família, em que ela é gerada e educada, deve ser sagrada(2). Da mesma forma deve ser sagrada a união sexual, que dá origem à vida. Sagrado deve ser também o matrimônio, em que o homem e a mulher constituem uma comunidade de amor própria para a transmissão da vida. Por fim, deve ser sagrado o namoro, em que o rapaz e a moça se preparam para assumirem esse compromisso perpétuo de amor, fidelidade e fecundidade.
A castidade, sinal de contradiçãoCompete à castidade zelar pela sacralidade das coisas que mais têm a ver com a vida: o namoro, o matrimônio, a atração entre os sexos, a união sexual. Por isso a castidade é apta a atrair, seja o
fascínio dos que respeitam a vida, seja o escárnio dos que exaltam a morte.
É difícil permanecer neutro diante da castidade. Ela exige uma opção. E essa opção acaba por ser
apaixonada. Os castos defendem a castidade com todas as fibras e não querem largá-la por nada deste mundo. Os mundanos odeiam a castidade com todas as suas forças e não se cansam enquanto não esmagarem o último casto que encontrarem pela frente. A castidade é, de fato, um sinal de contradição
(Lc 2,34).
Quem não está com ela, está contra ela (Mt 12,30).
A castidade, virtude sobrenatural
Note-se que, até agora falamos da castidade como virtude natural. Nenhum menção fizemos à graçasobrenatural, que Cristo conquistou para nós pelo preço de seu sangue (1Cor 6,20). Também não falamos do Espírito Santo que, como fruto da redenção de Cristo, passou a habitar em nosso corpo como em um templo (1Cor 6,19).
Se todo homem tem o dever de ser casto, pelo simples fato de ser racional, o cristão tem um motivo a mais para cultivar a castidade: ele é templo do Espírito Santo. Seus instintos devem ser governados, não apenas pela razão natural, mas pela graça sobrenatural.
"Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta" (Gl 5,25).
Para o cristão, a vida humana, que é sagrada por ser criada por Deus, é sagrada também por ter sido "recriada" por Cristo. Ele deu a sua vida por nós. Ele veio para que tivéssemos vida, e vida em
abundância (Jo 10,10). E a vida que ele prometeu dar-nos é a mesma que recebeu do Pai: "Como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim aquele que me come, viverá por mim" (Jo 6,57). Ele prometeu habitar naquele que cumpre sua palavra: "Se alguém me ama, guardará minha palavra, e meu Pai o amará. E viremos a ele, e nele faremos morada" (Jo 14,23). Aquele que foi batizado em Cristo, revestiu-se de Cristo (Gl 3,27). Pode dizer, com São Paulo: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20).
Para nós, cristãos, a vida humana, elevada pela graça à participação com a vida divina (2Pd 1,4), tem um valor de eternidade. Assim, temos maior razão para respeitarmos a vida. E, em consequência, temos maior razão para valorizarmos a castidade.
O fascínio da castidade
Por referir-se a algo sagrado, como a vida, a castidade tem algo de misterioso e fascinante. O rosto de um casto, longe de parecer deformado, mutilado, é um rosto irradiante. Seu brilho fascina, sua luz causa atração em muitos, ofusca e incomoda a outros.
Como uma casa onde não há sujeira não é uma casa incompleta,
Como o corpo onde não há doenças não é um corpo mutilado,
Como uma máquina onde não há movimentos descontrolados não é uma máquina defeituosa,
Assim o casto, em quem não há os desvios e excessos deste mundo, não é alguém frustrado. Não é pobre, mas rico. Não é triste, mas alegre. Não é vazio, mas cheio. Seus olhos indicam que ele vê e entende coisas que estão ocultas aos impuros. Ao contemplarmos os olhos de um casto, percebemos o que quis dizer Jesus ao afirmar:
"Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5,8).
Os castos, que renunciam aos filmes imorais, que vigiam os olhos para não serem surpreendidos por uma imagem obscena em uma banca de jornais, conservam-se puros para verem Aquele que é. E desde agora, embora ainda não o vejam, já o entendem de maneira imensamente mais profunda do que os outros.
Há uma co-naturalidade afetiva entre a castidade e o conhecimento de Deus, que levava Pascal a
dizer: "Mostre-me um casto que negue a existência de Deus e eu acreditarei nele"(3).
Com isso, o filósofo francês dizia que o ateísmo é um privilégio dos impuros, assim como a visão de Deus será um privilégio dos puros.
Prova de amor
Os namorados, que se preparam para o casamento, podem e devem dar prova de amor um ao outro.
Mas como o amor se prova? Prova-se pela castidade. Não é verdadeiro o amor que não é casto.
Durante o namoro, a castidade manifesta-se pelo tempo, pela distância e pelo sacrifício:
– pelo tempo: o verdadeiro amor sabe esperar;
– pela distância: o verdadeiro amor sabe separar os corpos, a fim de unir as almas;
– pelo sacrifício: o verdadeiro amor sabe abster-se de prazer por causa do outro.
Essas exigências da castidade, justamente por serem tão contrárias ao que prega e faz o mundo,
apresentam-se aos jovens como um desafio, uma meta a ser atingida. E os jovens gostam de desafios.
É próprio da juventude o repúdio à mediocridade e o desejo de fazer algo diferente.
Ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, os jovens costumam ser muito receptivos a uma pregação sobre a castidade. Espantam-se com o que ouvem, mas sentem-se atraídos.
Ao entenderem que o motivo da castidade é o amor, os jovens encaram-na como algo positivo.
Mais que isso:como algo precioso, belo, fascinante.
A fornicação (relação sexual entre solteiros) nada mais é do que um ato de egoísmo praticado a dois. A fornicação está para o amor como o não está para o sim. Justamente porque os fornicadores não sabem esperar, não sabem se distanciar e não sabem se sacrificar, eles em nada diferem dos animais na época do cio. A fornicação é a suprema prova de falta de amor. É o sinal mais seguro de que os dois não merecem um ao outro, não merecem o sacramento do matrimônio e estão totalmente despreparados para constituírem uma família.
A alegria da castidade
Se a castidade é positiva em seu motivo – o amor – também o é em seu efeito. O efeito da castidade foi dito pelo próprio Jesus: a visão de Deus. Esta visão chama-se beatífica porque traz a felicidade.
Aqui na terra ainda não temos a felicidade, mas temos um antegozo dela, que se chama alegria.
A fornicação (relação sexual entre solteiros), o adultério (relação sexual entre uma pessoa casada e outra que não o seu cônjuge) e outros pecados contra a castidade são capazes de oferecer prazer, mas não alegria.
O prazer é corpóreo. A alegria é espiritual.
O prazer é efêmero, passageiro. A alegria é perene e aponta para a felicidade eterna.
O prazer deixa um sabor amargo, um vazio, um remorso. A alegria deixa uma paz, que o mundo é
incapaz de dar.
Se os que buscam o prazer na impureza conhecessem a alegria da pureza, desejariam ser puros nem que fosse só por interesse. De fato, a alegria da pureza está acima do prazer da impureza como o céu está acima da terra.
DistinçõesCastidade não se confunde com ingenuidade ou ignorância.
A castidade não é privilégio daqueles que nada sabem sobre o ato sexual, nem daqueles que são
ingênuos demais para perceberem a malícia do mundo.
Casto é aquele que, entendendo o desígnio de Deus sobre a transmissão da vida, recusa-se a admitir que ela se dê fora de um ato de autêntico amor. Casto é aquele que, precavendo-se das artimanhas do Maligno, sabe prudentemente evitar as ocasiões próximas de pecar.
O casto é um forte, um herói, cuja fortaleza e heroísmo provocam inveja dos impuros, que nada mais são do que fracos e covardes.
O casto é o vencedor cuja vitória irrita o impuro, que é derrotado pelos próprios instintos.
Virgem Prudentíssima
Quando perguntaram a Santa Bernardete se Nossa Senhora é bonita, a vidente respondeu espantada:
"Se Nossa Senhora é bonita? Se você a visse, seu único desejo seria morrer para vê-la eternamente".
Irmã Lúcia de Fátima, ao referir-se à Virgem Maria, disse: "Era uma senhora mais brilhante que o
sol"(4).
Maria Santíssima brilha, não porque tenha luz própria, mas porque nunca pôs obstáculo à luz de Deus.
Se os castos brilham, e brilham tanto, não irradiam a própria luz, mas a de Deus, que neles penetra sem empecilho.
Para entendermos o brilho da castidade, olhemos para os olhos de uma criança. Que há neles que osdiferencie dos olhos dos adultos? São olhos sinceros ( = "sem cera"), transparentes. O olhar de um bebê é algo misterioso. É um olhar que nos interpela. A criança ainda não aprendeu a usar máscaras, não criou crostas de sujeira em seus olhos. Ao olhar-nos ela se revela tal como é. E parece que enxerga algo que não enxergamos. Assim são os castos(5).
Na idade adulta, a castidade precisa ser mantida por uma constante vigilância.
"Vigiai e orai para não cairdes em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mt
26,41).
Em matéria de castidade – diz a Madre Maria Helena Cavalcanti – não há fortes nem fracos. Há
prudentes e imprudentes.
Prudentes são os que, reconhecendo a própria fraqueza, fogem das ocasiões de pecar e agradecem aqueles que os auxiliam com conselhos e exortações.
Imprudentes são os loucos que, embora fracos, insistem em pensar que são fortes, que não cometerão o que os outros já cometeram, que rejeitam as recomendações dos pais e a vigilância de terceiros.
A castidade só se conserva pela prudência. Não é à toa que a Ladainha de Nossa Senhora chama-a de "Virgem prudentíssima". O imprudente, ainda que ore, ainda que ore muito, acabará por cair, e grande será sua queda.
Para a conservação da castidade, dificilmente seremos exagerados em matéria de prudência. Os
jovens que, por imprudência perderam a virgindade, e reconheceram tarde demais que eram fracos, sabem que não é exagero exigir
que os namorados nunca fiquem sozinhos;
que sempre haja a presença de uma terceira pessoa;
que sempre namorem em um lugar claro e iluminado;
que evitem qualquer contato físico que possa causar excitação, seja em si seja no outro.
Convém lembrar - nunca será demais insistir - que a castidade é um tesouro: "um homem o acha e o torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo" (Mt 13,44).
Não costumam ter sucesso as receitas para emagrecer que se concentram nas privações e proibições alimentares. É preciso algo para substituir, com vantagem, os alimentos proibidos aos obesos.
Também Jesus, em seu jejum, não embora se privasse de pão e sentisse fome, resistiu ao demônio dizendo: "Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4,4).
Assim, uma pregação sobre a castidade precisa ser acompanhada de tudo o que ela tem de positivo, em compensação às privações que ela requer: o amor verdadeiro, a visão de Deus, o conhecimento de Deus, a alegria.
Nunca devemos esquecer esta bem-aventurança fundamental reservada aos castos: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5,8).
1) "Há mais felicidade em dar que em receber" (At 20,35).
2) A família, santuário da vida (Encíclica Evangelium Vitae, n. 92).
3) Citação de Pe. Welington Leone Ceva, no retiro do clero da Diocese de Anápolis, ocorrido de 10 a 14 de
dezembro de 2001.
4) cf. Ap 12
5) "Se não vos converterdes, e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Ceús"
(Mt 18,2).
A castidade costuma ser definida como algo negativo. É a qualidade daquele que se abstém de
relações sexuais antes ou fora do casamento. É a virtude dos que evitam olhares libidinosos, dos querejeitam os divertimentos mundanos, dos que se privam de seguir as modas licenciosas. É também a virtude daqueles que renunciam ao casamento "por causa do Reino dos Céus" (Mt 19,12) a fim de servirem a Deus com o coração indiviso (1Cor 7,32-34).
Abstenção, renúncia, privação. Tais palavras indicam uma lacuna, uma falta, um vazio. Não é errado usá-las para definir a castidade. Mas não se pode parar nelas. Pois, que sentido tem exaltar um vazio?
Elogiar uma privação? Glorificar uma falta? Não seria mais sensato preencher o vazio? Satisfazer à
privação? Suprir a falta?
Ao falar da castidade como algo que se deixa de fazer, como algo de que se abstém, como algo a que se renuncia, é preciso acrescentar o motivo de tal não-fazer, de tal abstenção, de tal renúncia.
É preciso ainda, além dos motivos, falar dos frutos de tal atitude. Em suma: é preciso falar do que a castidade tem de positivo, nos seus motivos e nos seus efeitos.
De outro modo, a castidade se apresentaria como uma atitude louca, uma espécie de neurose, sem explicação lógica, mas puramente psicológica: um mecanismo de fuga, uma frustração, como
costumam dizer os psicanalistas.
Nem toda privação é má
A falta de olhos em um homem é digna de elogios? Um poeta exaltaria a falta de uma perna
consumida por uma gangrena? Alguém louvaria a falta de comida no estômago ou a ausência de
cordas vocais em uma garganta? A privação, por si só, não parece ser atraente.
No entanto, a filosofia ensina-nos que nem toda privação é má. Má é a ausência de uma perfeição
devida. Assim, é mau que um homem não tenha olhos, uma vez que os olhos são devidos à natureza humana. Mas não pode ser chamada de "má" a ausência de olhos na pedra, uma vez que a pedra, por sua natureza inerte e inanimada, não requer a presença de olhos. Tal perfeição, por não ser devida à pedra, pode estar ausente sem que isso constitua um mal.
Privação de algo indevido
Assim, a castidade, embora signifique privação, não é um mal. O casto não se priva de algo devido.
Priva-se de algo indevido.Alguém aqui poderia replicar: não é devido à natureza humana que o homem e a mulher se sintam atraídos? A atração entre os sexos não é algo natural, que a castidade repele de modo artificial? Não seria um mal que os jovens reprimam suas inclinações naturais, abstendo-se de relações sexuais e, mais ainda, de tudo quanto possa causar o desejo delas?
A resposta é simples. A natureza humana não é apenas corpórea, mas também espiritual. Se é natural ao homem o instinto que o leva a alimentar-se, a fugir dos perigos, a aproximar-se de alguém do outro sexo, também é natural que tais instintos sejam regulados pela razão. Pertence à natureza do homem não se transformar em joguete de seus instintos, mas controlá-los racionalmente. Esse controle implica privação. Mas privação de algo indevido.
O motorista, ao controlar um automóvel, contraria a tendência natural do veículo de seguir em direção ao abismo, o que ocorreria se ele não girasse o volante. A mudança de trajetória, contrariando a tendência dos corpos de conservarem a direção de seu movimento, implica uma privação. Mas não se trata de uma privação de algo devido. Tal privação não é má. Ao contrário, ela é um bem. Pois, ao se privar de andar em linha reta em direção ao abismo, o automóvel segue a estrada e é capaz de chegar ileso ao destino desejado pelo condutor.
O casto, ao privar-se da relação sexual antes do matrimônio, está privando-se de algo indevido. Com efeito, se ele é solteiro, o corpo alheio ainda não lhe pertence. Unir-se a esse corpo seria uma usurpação, uma falta contra a justiça. O casado que, fiel ao compromisso conjugal, rejeita unir-se ao corpo de um terceiro, que não é seu cônjuge, está rejeitando algo indevido. Desse modo, a castidade, longe de ser um mal, é um bem: ela preserva o namoro, prepara o matrimônio, solidifica a família, enobrece o ser humano.
Sem desprezo pela sexualidade
Castidade não significa, nem pode significar menosprezo pelo matrimônio ou pela união física entre os cônjuges. Justamente por dar um grande valor a essas coisas, o casto não admite que o instinto sexual aja nelas cegamente, sem ser controlado pela razão.
Não é apenas o instinto sexual que precisa ser controlado. Também o instinto alimentar, que existe para assegurar nossa sobrevivência, precisa de um controle. Embora o homem sinta fome, sabe que deve esperar a hora da refeição para comer. Sabe que não pode apoderar-se de uma comida que não é dele, por mais apetitosa que seja. E sabe que deve comportar-se com boas maneiras estando à mesa. A virtude que regula o comer e o beber chama-se sobriedade. A sobriedade, no entanto, embora digna de admiração, não costuma despertar o fascínio e o encanto que desperta a castidade.
Por quê?Uma e outra não são partes da temperança?
Uma e outra não são virtudes que regulam instintos relacionados com a vida humana: o instinto
alimentar (sobriedade) e o instinto reprodutor (castidade)?
O que o casto tem de especial em relação ao sóbrio, que guarda moderação no comer e no beber?
Por que apenas a castidade - e não a sobriedade - costuma ser objeto de escárnio para o mundo?
Por que aquele que se abstém de bebidas alcoólicas e come moderadamente não recebe, nem de
longe, a zombaria que costuma receber o que valoriza a virgindade e a fidelidade conjugal?
A castidade relaciona-se com a transmissão da vida
Porque, embora o instinto alimentar seja relacionado com a vida, ele fica restrito à vida de um
indivíduo. O instinto sexual (ou reprodutor) relaciona-se com a vida da espécie humana. Transmitir a vida a outro ente, comunicando-lhe a natureza humana, chama-se gerar. O instinto sexual está
intimamente ligado à geração: à transmissão da vida.
Transmitir a vida a outrem é mais do que conservar a própria(1). Por isso a virtude da castidade, que regula o instinto reprodutor, é maior do que virtude da sobriedade, que regula o instinto alimentar.
A sacralidade da vida é entendida até pelos mais simples grupos humanos. Os nativos da Polinésia
usam a palavra tabu para exprimir as coisas sagradas, intocáveis. Para os polinésios, tabu
compreende a vida humana (que ninguém tem o direito de tocar), a geração da vida humana e a união sexual em que a vida humana é gerada. Tudo o que se refere à vida é tão sagrado quanto ela.
A sexualidade, portanto, é sagrada.
A belíssima palavra tabu tem um significado positivo. Não se trata de uma proibição irracional. Tratasede uma valorização de algo que supera o próprio homem: o poder de transmitir a vida. Trata-se dorespeito e da veneração por algo que, embora confiado ao homem, não está sujeito aos seus caprichos: o poder de gerar, de procriar, de cooperar com Deus na criação de um outro ente humano. Lamentavelmente a palavra tabu chegou ao nosso idioma com o significado pejorativo que lhe atribuiu a ideologia de Freud.
É intuitivo que a vida é sagrada. Também é intuitivo que a família, em que ela é gerada e educada, deve ser sagrada(2). Da mesma forma deve ser sagrada a união sexual, que dá origem à vida. Sagrado deve ser também o matrimônio, em que o homem e a mulher constituem uma comunidade de amor própria para a transmissão da vida. Por fim, deve ser sagrado o namoro, em que o rapaz e a moça se preparam para assumirem esse compromisso perpétuo de amor, fidelidade e fecundidade.
A castidade, sinal de contradiçãoCompete à castidade zelar pela sacralidade das coisas que mais têm a ver com a vida: o namoro, o matrimônio, a atração entre os sexos, a união sexual. Por isso a castidade é apta a atrair, seja o
fascínio dos que respeitam a vida, seja o escárnio dos que exaltam a morte.
É difícil permanecer neutro diante da castidade. Ela exige uma opção. E essa opção acaba por ser
apaixonada. Os castos defendem a castidade com todas as fibras e não querem largá-la por nada deste mundo. Os mundanos odeiam a castidade com todas as suas forças e não se cansam enquanto não esmagarem o último casto que encontrarem pela frente. A castidade é, de fato, um sinal de contradição
(Lc 2,34).
Quem não está com ela, está contra ela (Mt 12,30).
A castidade, virtude sobrenatural
Note-se que, até agora falamos da castidade como virtude natural. Nenhum menção fizemos à graçasobrenatural, que Cristo conquistou para nós pelo preço de seu sangue (1Cor 6,20). Também não falamos do Espírito Santo que, como fruto da redenção de Cristo, passou a habitar em nosso corpo como em um templo (1Cor 6,19).
Se todo homem tem o dever de ser casto, pelo simples fato de ser racional, o cristão tem um motivo a mais para cultivar a castidade: ele é templo do Espírito Santo. Seus instintos devem ser governados, não apenas pela razão natural, mas pela graça sobrenatural.
"Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta" (Gl 5,25).
Para o cristão, a vida humana, que é sagrada por ser criada por Deus, é sagrada também por ter sido "recriada" por Cristo. Ele deu a sua vida por nós. Ele veio para que tivéssemos vida, e vida em
abundância (Jo 10,10). E a vida que ele prometeu dar-nos é a mesma que recebeu do Pai: "Como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim aquele que me come, viverá por mim" (Jo 6,57). Ele prometeu habitar naquele que cumpre sua palavra: "Se alguém me ama, guardará minha palavra, e meu Pai o amará. E viremos a ele, e nele faremos morada" (Jo 14,23). Aquele que foi batizado em Cristo, revestiu-se de Cristo (Gl 3,27). Pode dizer, com São Paulo: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20).
Para nós, cristãos, a vida humana, elevada pela graça à participação com a vida divina (2Pd 1,4), tem um valor de eternidade. Assim, temos maior razão para respeitarmos a vida. E, em consequência, temos maior razão para valorizarmos a castidade.
O fascínio da castidade
Por referir-se a algo sagrado, como a vida, a castidade tem algo de misterioso e fascinante. O rosto de um casto, longe de parecer deformado, mutilado, é um rosto irradiante. Seu brilho fascina, sua luz causa atração em muitos, ofusca e incomoda a outros.
Como uma casa onde não há sujeira não é uma casa incompleta,
Como o corpo onde não há doenças não é um corpo mutilado,
Como uma máquina onde não há movimentos descontrolados não é uma máquina defeituosa,
Assim o casto, em quem não há os desvios e excessos deste mundo, não é alguém frustrado. Não é pobre, mas rico. Não é triste, mas alegre. Não é vazio, mas cheio. Seus olhos indicam que ele vê e entende coisas que estão ocultas aos impuros. Ao contemplarmos os olhos de um casto, percebemos o que quis dizer Jesus ao afirmar:
"Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5,8).
Os castos, que renunciam aos filmes imorais, que vigiam os olhos para não serem surpreendidos por uma imagem obscena em uma banca de jornais, conservam-se puros para verem Aquele que é. E desde agora, embora ainda não o vejam, já o entendem de maneira imensamente mais profunda do que os outros.
Há uma co-naturalidade afetiva entre a castidade e o conhecimento de Deus, que levava Pascal a
dizer: "Mostre-me um casto que negue a existência de Deus e eu acreditarei nele"(3).
Com isso, o filósofo francês dizia que o ateísmo é um privilégio dos impuros, assim como a visão de Deus será um privilégio dos puros.
Prova de amor
Os namorados, que se preparam para o casamento, podem e devem dar prova de amor um ao outro.
Mas como o amor se prova? Prova-se pela castidade. Não é verdadeiro o amor que não é casto.
Durante o namoro, a castidade manifesta-se pelo tempo, pela distância e pelo sacrifício:
– pelo tempo: o verdadeiro amor sabe esperar;
– pela distância: o verdadeiro amor sabe separar os corpos, a fim de unir as almas;
– pelo sacrifício: o verdadeiro amor sabe abster-se de prazer por causa do outro.
Essas exigências da castidade, justamente por serem tão contrárias ao que prega e faz o mundo,
apresentam-se aos jovens como um desafio, uma meta a ser atingida. E os jovens gostam de desafios.
É próprio da juventude o repúdio à mediocridade e o desejo de fazer algo diferente.
Ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, os jovens costumam ser muito receptivos a uma pregação sobre a castidade. Espantam-se com o que ouvem, mas sentem-se atraídos.
Ao entenderem que o motivo da castidade é o amor, os jovens encaram-na como algo positivo.
Mais que isso:como algo precioso, belo, fascinante.
A fornicação (relação sexual entre solteiros) nada mais é do que um ato de egoísmo praticado a dois. A fornicação está para o amor como o não está para o sim. Justamente porque os fornicadores não sabem esperar, não sabem se distanciar e não sabem se sacrificar, eles em nada diferem dos animais na época do cio. A fornicação é a suprema prova de falta de amor. É o sinal mais seguro de que os dois não merecem um ao outro, não merecem o sacramento do matrimônio e estão totalmente despreparados para constituírem uma família.
A alegria da castidade
Se a castidade é positiva em seu motivo – o amor – também o é em seu efeito. O efeito da castidade foi dito pelo próprio Jesus: a visão de Deus. Esta visão chama-se beatífica porque traz a felicidade.
Aqui na terra ainda não temos a felicidade, mas temos um antegozo dela, que se chama alegria.
A fornicação (relação sexual entre solteiros), o adultério (relação sexual entre uma pessoa casada e outra que não o seu cônjuge) e outros pecados contra a castidade são capazes de oferecer prazer, mas não alegria.
O prazer é corpóreo. A alegria é espiritual.
O prazer é efêmero, passageiro. A alegria é perene e aponta para a felicidade eterna.
O prazer deixa um sabor amargo, um vazio, um remorso. A alegria deixa uma paz, que o mundo é
incapaz de dar.
Se os que buscam o prazer na impureza conhecessem a alegria da pureza, desejariam ser puros nem que fosse só por interesse. De fato, a alegria da pureza está acima do prazer da impureza como o céu está acima da terra.
DistinçõesCastidade não se confunde com ingenuidade ou ignorância.
A castidade não é privilégio daqueles que nada sabem sobre o ato sexual, nem daqueles que são
ingênuos demais para perceberem a malícia do mundo.
Casto é aquele que, entendendo o desígnio de Deus sobre a transmissão da vida, recusa-se a admitir que ela se dê fora de um ato de autêntico amor. Casto é aquele que, precavendo-se das artimanhas do Maligno, sabe prudentemente evitar as ocasiões próximas de pecar.
O casto é um forte, um herói, cuja fortaleza e heroísmo provocam inveja dos impuros, que nada mais são do que fracos e covardes.
O casto é o vencedor cuja vitória irrita o impuro, que é derrotado pelos próprios instintos.
Virgem Prudentíssima
Quando perguntaram a Santa Bernardete se Nossa Senhora é bonita, a vidente respondeu espantada:
"Se Nossa Senhora é bonita? Se você a visse, seu único desejo seria morrer para vê-la eternamente".
Irmã Lúcia de Fátima, ao referir-se à Virgem Maria, disse: "Era uma senhora mais brilhante que o
sol"(4).
Maria Santíssima brilha, não porque tenha luz própria, mas porque nunca pôs obstáculo à luz de Deus.
Se os castos brilham, e brilham tanto, não irradiam a própria luz, mas a de Deus, que neles penetra sem empecilho.
Para entendermos o brilho da castidade, olhemos para os olhos de uma criança. Que há neles que osdiferencie dos olhos dos adultos? São olhos sinceros ( = "sem cera"), transparentes. O olhar de um bebê é algo misterioso. É um olhar que nos interpela. A criança ainda não aprendeu a usar máscaras, não criou crostas de sujeira em seus olhos. Ao olhar-nos ela se revela tal como é. E parece que enxerga algo que não enxergamos. Assim são os castos(5).
Na idade adulta, a castidade precisa ser mantida por uma constante vigilância.
"Vigiai e orai para não cairdes em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mt
26,41).
Em matéria de castidade – diz a Madre Maria Helena Cavalcanti – não há fortes nem fracos. Há
prudentes e imprudentes.
Prudentes são os que, reconhecendo a própria fraqueza, fogem das ocasiões de pecar e agradecem aqueles que os auxiliam com conselhos e exortações.
Imprudentes são os loucos que, embora fracos, insistem em pensar que são fortes, que não cometerão o que os outros já cometeram, que rejeitam as recomendações dos pais e a vigilância de terceiros.
A castidade só se conserva pela prudência. Não é à toa que a Ladainha de Nossa Senhora chama-a de "Virgem prudentíssima". O imprudente, ainda que ore, ainda que ore muito, acabará por cair, e grande será sua queda.
Para a conservação da castidade, dificilmente seremos exagerados em matéria de prudência. Os
jovens que, por imprudência perderam a virgindade, e reconheceram tarde demais que eram fracos, sabem que não é exagero exigir
que os namorados nunca fiquem sozinhos;
que sempre haja a presença de uma terceira pessoa;
que sempre namorem em um lugar claro e iluminado;
que evitem qualquer contato físico que possa causar excitação, seja em si seja no outro.
Convém lembrar - nunca será demais insistir - que a castidade é um tesouro: "um homem o acha e o torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo" (Mt 13,44).
Não costumam ter sucesso as receitas para emagrecer que se concentram nas privações e proibições alimentares. É preciso algo para substituir, com vantagem, os alimentos proibidos aos obesos.
Também Jesus, em seu jejum, não embora se privasse de pão e sentisse fome, resistiu ao demônio dizendo: "Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4,4).
Assim, uma pregação sobre a castidade precisa ser acompanhada de tudo o que ela tem de positivo, em compensação às privações que ela requer: o amor verdadeiro, a visão de Deus, o conhecimento de Deus, a alegria.
Nunca devemos esquecer esta bem-aventurança fundamental reservada aos castos: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5,8).
1) "Há mais felicidade em dar que em receber" (At 20,35).
2) A família, santuário da vida (Encíclica Evangelium Vitae, n. 92).
3) Citação de Pe. Welington Leone Ceva, no retiro do clero da Diocese de Anápolis, ocorrido de 10 a 14 de
dezembro de 2001.
4) cf. Ap 12
5) "Se não vos converterdes, e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Ceús"
(Mt 18,2).
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